Atingidos visitam Centro de Cultura em Brumadinho

Atingidos visitam Centro de Cultura em Brumadinho
Foto: Reprodução Aedas

Conforme divulgado pela Aedas, assessoria técnica dos atingidos de Itatiaiuçu, a Comissão de Atingidos e Atingidas de Itatiaiuçu teve a oportunidade de conhecer o Centro de Cultura e Artesanato Laudelina Marcondes, localizada no bairro Córrego do Feijão, em Brumadinho, no mês de abril. A iniciativa reuniu integrantes da Comissão, da Aedas e a equipe da Assessoria Técnica Peabiru.

Para as pessoas atingidas, a visita foi um momento de inspiração para o desenvolvimento do Plano Popular do Centro Comunitário de Atingidos e Atingidas de Itatiaiuçu. Segundo explicado pela Aedas, a criação do Centro Comunitário é uma das medidas de reparação coletiva que foi proposta pelas comunidades atingidas e está dentro do Segundo Termo de Acordo Complementar (TAC2), que deve ser assinado nos próximos meses. 

O Centro de Cultura de Brumadinho é um espaço criativo da região, uma das áreas mais atingidas pelo rompimento da barragem Córrego do Feijão da Vale, em 2019. O local recebe atividades culturais, oficinas de criação de produtos artesanais e artísticos. 

Para o arquiteto e urbanista da Peabiru, Caio Santo Amore, a visita da Comissão à praça e aos equipamentos comunitários, como a cozinha industrial, restaurante, mercado e centro de cultura, foi uma forma encontrada para a construção de repertório comum entre as pessoas atingidas. “A visita foi acompanhada por gestores dos espaços, atingidos pelo desastre de 2019. Nas trocas de experiências com a Comissão de Itatiaiuçu, foi possível compreender mais do que nossos olhos e corpos viram e viveram naquele espaço, observá-lo de maneira crítica, para além do encantamento que a boa arquitetura poderia provocar”, explicou.

Impressões da comunidade

“A visita que a gente fez lá no Córrego do Feijão foi uma visita muito boa, saiu da zona de conforto, porque, de certa forma, aqui a barragem não teve um rompimento, mas teve acionamento. A gente vive numa lama invisível e lá a lama é visível”, confidenciou a atingida Luzia Soares. 

Mas caminhar pelo Centro também gerou inquietação e sensações desconcertadas. A atingida Luzia contou que “foi boa a visita, mas a comunidade é muito vazia, praça sem gente, é muita coisa boa e poucas pessoas para poder aproveitar”. 

Já a atingida Fabiana Lima conta que a ida ao Centro de Cultura foi ainda intrigante e reflexiva. “A visita foi muito interessante, divertida até! Fica bem perceptível os danos ambientais causados na paisagem em volta, as obras de reparações que foram feitas são muitas bonitas, os projetos arquitetônicos, mas senti falta de pessoas para desfrutar daqueles espaços, embora seja um local bonito, agradável, com o rompimento da barragem muitas famílias se mudaram do local”, desabafou.

Para Itatiaiuçu, a ideia é que o Centro Comunitário atraia as pessoas e as comunidades atingidas, gerando uma nova realidade para a cidade. “Eu desejo que com essas medidas de reparação que está pra acontecer aqui, as pessoas possam desejar permanecer no local, usufruindo dos espaços que vão proporcionar pra nós”, afirmou Fabiana.

A atingida Luzia Soares também comentou sobre os anseios para o Centro Comunitário de Itatiaiuçu: “É muita coisa boa para gente copiar de lá, a praça de lá ficou muito bonita, bem original como a gente sonhava, com um salão para a comunidade, espaço multiuso para todos usarem quando for preciso,  fazer uma reunião, uma assembleia... E nós temos pessoas que vão usufruir das benfeitorias no futuro”, pontuou.

Os atingidos tiveram a oportunidade ainda de conversar sobre a visita e compartilhar suas reflexões com um olhar crítico sobre os espaços visitados. Durante a reunião, realizada após a visita, a equipe da Peabiru mostrou uma síntese das oficinas realizadas em fevereiro nas comunidades de Pinheiros e Vieiras, além de exemplos de centros comunitários autogeridos em outros estados. 

“Apresentamos centros comunitários na Região Metropolitana de São Paulo, construídos no contexto de programas públicos de produção habitacional em autogestão e de urbanização de favelas. São casos em que esses edifícios têm de fato gestão própria das associações ou compartilhada com órgãos públicos. Com isso demonstramos que a edificação não é quase nada se não houver de fato atividade e povo para executá-las dentro desses edifícios”, concluiu Caio. (Com informações da Aedas)